“Desde a maternidade dos mares e oceanos, o mangue” foram as palavras com as quais iniciou sua intervenção o dirigente dos Povos do Mangue e do Mar, Líder Góngora Farías, em representação da Redmanglar Internacional e do Fórum Mundial de Povos Pescadores e Catadores (WFFP).
Essa mensagem, carregada de memória, força e esperança, marcou a participação ativa de nossas delegações no Fórum e permitiu que a pesca e a coleta artesanal se posicionassem com dignidade como verdadeiros “espaços de vida” na agenda internacional.
Nossa liderança coletiva demonstrou que não somos atores marginais, mas sim povos milenares — negros, cholos, montubios, indígenas e comunidades costeiras — que habitamos e cuidamos do Pacífico Sul há mais de 10.000 anos antes de Cristo. Somos guardiões de mares, rios, manguezais e costas, e protagonistas na defesa dos bens comuns.
Da mesma forma, lembramos ao mundo uma verdade irrefutável: as mulheres catadoras de mariscos representam cerca de 50% do setor da pesca artesanal, segundo a FAO, e sua visibilização é um direito histórico que não pode continuar sendo negado.
Manifesto dos Povos do Mangue e do Mar
Neste Fórum Mundial declaramos:
Exigimos o reconhecimento de nossos maritórios como territórios de vida, onde mar e comunidade se entrelaçam.
Denunciamos a “economia azul”, a pesca industrial, a aquicultura intensiva e a conservação imposta, que geram espoliação, violência e destruição.
Defendemos soluções comunitárias: restaurar manguezais e recifes, garantir o pescado e os mariscos como alimento, proteger a vida e não o mercado.
Reafirmamos que as mulheres são cuidadoras e decisoras, e devem ser plenamente incluídas nas instâncias de poder e decisão.
Demandamos justiça climática e energética, assim como solidariedade com todos os povos que enfrentam militarização, racismo e espoliação, desde a Palestina até as comunidades costeiras do mundo.
Neste Fórum colocamos nossas vozes, lutas e propostas para que sejam ouvidas no cenário internacional. Não saímos invisibilizados: saímos fortalecidos, unidos e com o compromisso de seguir defendendo mares, rios, manguezais e costas como bens comuns para o presente e o futuro.
“Desde a maternidade do mangue seguimos tecendo vida, resistência e esperança para todos os povos do mar.”
Reprodução do Fórum Global Nyéléni
