Contexto: vivências amazônicas precedem a construção da Carta Popular
A mobilização histórica por Justiça Climática Global em Belém ganhou força ainda maior nos dias que antecedem a abertura oficial da Cúpula dos Povos. A agenda incluiu uma série de vivências amazônicas, conectando representantes de centenas de organizações que estarão na Cúpula dos Povos, com suas realidades locais, em um processo de ambientação e troca que antecede a produção política da Carta que será entregue à Cúpula.
Essa imersão ressalta o entendimento central dos movimentos: a crise climática não é uma questão técnica, mas sim política e social. Conforme reiterou Eduardo Giesen Amtmann, porta-voz do Eixo 4 da Cúpula dos Povos e professor de Ecologia Política, em alinhamento com a postura das organizações:
“A crise climática não é um fenômeno natural, mas o resultado de um sistema que explora o planeta e concentra riqueza, o capitalismo extrativista. As temperaturas em média na superfície da Terra são as mais altas registradas na história por culpa deste sistema político e econômico. Por isso, rejeitamos veementemente as ‘soluções capitalistas’, como os mercados de carbono, e exigimos que a resposta seja focada no valor ético da vida e da natureza, e não em colocar preço sobre ela.”
É neste espírito de urgência e rejeição a soluções falsas que o IV Encontro Internacional dos Atingidos por Barragens e Crise Climática, organizado pelo MAR e o MAB, tem mergulhando na consolidação de sua agenda para a Cúpula.
Articulação global para a construção da carta política
O quarto dia do Encontro irrompeu nesta segunda-feira (10) com o objetivo claro de produzir a carta política que centralizará as demandas urgentes dos atingidos por barragens e pela crise climática.
Um momento de cultura e política ao som da banda Mistura Popular preparou o público para o Trabalho em Grupos sobre as Lutas de Resistência e Conquistas dos Atingidos. Em uma dinâmica pré-debate carregada de significado, representantes de todos os continentes trouxeram símbolos e objetos de suas lutas, tecendo um mapa vivo de identidades e resistência territorial.
A urgência do debate foi chancelada pela presença de Pedro Arrojo, Relator Especial da ONU para os Direitos Humanos à Água Potável e ao Saneamento. Arrojo, cuja atuação mais recente incluiu a apuração de violações no Peru (entre outros cenários de conflito hídrico e violação de direitos), ecoou a denúncia global feita pelo Movimento contra a sistemática exploração de rios e a violação de direitos humanos promovida por megaprojetos.
Condensando lutas e denúncias globais: a unanimidade das mazelas
O Encontro seguiu com a condensação das experiências e lutas do movimento internacional. Representantes de diversos continentes – incluindo delegados da República Democrática do Congo, Tailândia, Palestina, Cuba, México e Indonésia – foram distribuídos em cinco grupos de trabalho para documentar e sistematizar as lutas e estratégias de resistência.
O debate nos grupos revelou unanimidade nas mazelas sofridas, centralizadas na privatização da água, na exploração de minérios e na construção de megaprojetos. Essa “hidro-necropolítica” tem resultados perversos e ironicamente contraditórios. Sobre esse aspecto, Ana Valdez, ativista mexicana atingida, ressalta que em seu país, o povo passa por “um processo de centrifugação de direitos”. Grandes corporações represam os rios que resultam às comunidades escassez hídrica e contaminação, quando não a morte.
A mesma realidade foi relatada por Malee Hettarakun, da Indonésia, ao descrever a violência corporativa em seu território, enquanto Augustin Louis Lokorbo, da República Democrática do Congo, destacou a importância da troca:
“Nossos opressores atuam globalmente, e nós, os atingidos, temos que responder à altura. É apenas por meio dessa troca intercontinental de saberes e estratégias que podemos combater os mecanismos usados pelas empresas e pelos governos para violar nossos direitos.”
A sistematização dessas denúncias e experiências de luta é a base para a consolidação do Movimento Internacional e para a formulação da Carta que será apresentada na Cúpula dos Povos.
📍Programação 11/11/25 – TERÇA-FEIRA
9h – Relato dos trabalhos em grupos sobre as lutas e resistência dos atingidos.
15h – Apresentação da construção do Movimento Internacional
20h – Confraternização e noite de fortalecimento da luta transformadora
Foto: Joyce Silva_MAB
